Uma das publicações que eu fiz no meu perfil.
Desde março de 2020, as nossas vidas viraram um verdadeiro pandemônio por conta de uma pandemia que já ceifou mais de 600 mil vidas (embora eu ache que o Atila tinha razão e nós já tenhamos passado de 1 milhão, com a absoluta falta de notificação).
No mundinho Kawaii, isso comprometeu principalmente os eventos - cancelados por razões óbvias e coerentes - e nos levou a compartilhar nossos visuais e experiências nas telas, seja através de encontros virtuais, transmissões ao vivo e principalmente produzindo conteúdo para as redes sociais.
Eu faço isso desde que a Internet era mato. Sim, estou aqui desde 2002 mais ou menos, desde que os blogs ainda eram moda (lembro-me até hoje do Anjo Desiludido, página do Weblogger que eu mantinha com poesias e contos. Imagine a cruzada para caçar templates e modificar os códigos HTML!).
Estive presente em praticamente todas as plataformas que se possa imaginar. Porém, eu só produzi conteúdo propriamente até 2016, quando decidi apenas compartilhar minhas fotos usando Lolita ou Decora-kei. Com o distanciamento social e mais tempo em casa, tive a ideia de voltar a 'blogar'.
Fiz várias publicações partilhando minhas visões sobre continuar usando e gostando de coisas fofinhas 'mesmo com minha idade' (acho essas aspas bizarras, mas é assunto pra outro post), bem como o conhecimento acumulado de dez anos vivendo várias estéticas.
O resultado, para mim, foi decepcionante: ninguém pareceu se importar. E o pior foi ter conhecimento disso através das tais 'métricas', já que levei a coisa a sério e mensurar quem me acompanhava. Foi a primeira vez em que ouvi uma das palavras mais odiáveis do dicionário brasileiro: engajamento.
Blogar nos anos 2000 é BRUTALMENTE diferente de produzir conteúdo agora. Já sei que sou idosinha e não quero parecer saudosista, mas as páginas funcionavam mais como diários mesmo, e o que tinha de interação era para dialogar e trocar experiências - como deveria ser a premissa das redes sociais.
Porém, eu acompanho amigas mais novas do que eu, e as coisas são INSANAS (em caixa-alta porque eu fico assustada). Tem gente que chora porque não fez visual novo para os seguidores. Tem gente que pede desculpas por estar mal e não ter postado, e tá mais preocupada porque 'o engajamento vai cair'.
Gente que se endivida porque sempre TEM que 'trazer novidade'. Que sente estar decepcionando os seguidores porque precisou mudar o 'calendário'. E gente que sente tudo isso.
(...)
Porém, a coisa se tornou ainda mais desastrosa quando esses sentimentos começaram a me tomar. Nunca fui popular na Internet, mesmo lá atrás, e nem mesmo sou fã de correr atrás de seguidores. Meu objetivo era ser uma referência de que não existe idade para vestir o que se gosta.
O problema é que com mais tempo em casa, a gente fica rolando as redes sociais por mais tempo, e a inevitável comparação com os outros começou a aparecer. Não só em relação aos meus visuais, como no post passado, mas em relação ao que eu fazia de conteúdo.
Comecei a me perguntar: por que continuar falando se ninguém me escuta? O pior foi quando percebi que gente dentro dos padrões de beleza com conteúdos muito parecidos com os meus tinham muito mais visibilidade. Aos poucos, fui me desiludindo até parar de escrever.
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Longe de mim pregar que redes sociais são tóxicas, inclusive tô escrevendo nessa. Mas será que não é hora de questionar como a gente relaciona os hobbies que amamos com números que dificilmente definirão que valor temos? De condicionar nossa permanência no meio por causa de um 'deus algoritmo' cujos desígnios a gente nem sabe quais são?
Também não sou demagoga, e às vezes esse sentimento de insuficiência bate mesmo. O importante é manter o hábito de repensar o que nos motiva a fazer o que fazemos, e nossa relação com o conteúdo que produzimos.
Para que a gente não passe a odiar o que sempre gostamos. Por conta de algo que não podemos controlar.
- B
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