segunda-feira, 8 de junho de 2020

Jornada da Idosa | Capítulo 1: Amino Apps

Uma das partes mais desafiadoras de um TCC é a coleta de dados; o que significa procurar por coisas que você não conhece e tomar parte em coisas que você talvez não participasse em situações "normais". Eu sou uma usuária ativa da Internet desde o comecinho dos anos 2000, e vi os momentos mais canônicos da rede, como os chats da Uol, a febre dos nicknames coloridos do finado Messenger Plus, os RPGs fakes do Orkut. Passei raiva no Limewire quando a conexão caía e rezava para poder usar o computador de tubo compartilhado da casa da minha tia.

Atualmente, minha presença é basicamente no Facebook e Instagram. Nunca consegui achar muita graça do ambiente do Twitter. Entretanto, há aqueles aplicativos mais recentes, que eu não entrei até hoje por achar que estou velha demais pra participar. Estes foram lançados após 2010 e povoados pela galera da chamada "Geração Z". Mas, como o amor à pesquisa é muito, resolvi me render às novas redes e contar um pouco da minha experiência pra vocês. 

Vamos começar essa saga com o Amino Apps!



Quando foi criado? | 2014

Em quais plataformas funciona? | Aplicativo para Android e iOS, PC

Como funciona? | Pelo que eu entendi, o Amino é, essencialmente, um agregador de comunidades. Tem de todo tipo: RPG, animes, moda, estilo de vida, LGBT+, desenhos... Mas não é só: há fóruns, chats (convencionais e ao vivo), enquetes e quizzes (semelhantes ao BuzzFeed), projetos, pastas com fotos, vídeos e gifs... Se eu fosse descrever pra alguém que nunca ouviu falar, como minha orientadora, é uma mistura psicodélica de Pinterest, Instagram, Facebook e Twitter.

Para quem gosta de cultura kawaii em geral, a página principal é a Kawaii Amino, com quase cem mil participantes:



Como foi sua experiência, Marie?

Dia 1 - Baixei o aplicativo à noite. Meu celular atual é Samsung, não tive problemas para instalar. Procurei pelas comunidades que me interessavam (lolita e decora). Achei 4 comunidades inerentes a lolita, nenhuma para decora. Aproveitei e entrei para a Fofura Total - Kawaii, um grupo bem grande em português com quase 180 mil membros. Tinha um chat destinado a recepcionar quem acabou de entrar. O pessoal conversava entre si, então não tentei interagir. Fiz alguns quizzes legais.

Comunidade "Fofura Total" no meu desktop

Dia 2 - Achei algumas pessoas do meu convívio lolita por lá. Aproveitei para divulgar meu Censo Lolita (nunca se sabe). Comecei a encontrar as primeiras coisas incômodas no app: existe uma opção de impulsionamento das postagens pessoais onde se faz um story, mas demora muito de carregar. Talvez seja o 1GB de RAM do meu dispositivo. Outro aspecto não tão legal é que os testes têm resposta certa, o que não deixa o usuário conclui-los, obrigando-o a fazer tudo de novo. 

Dia 3 - Encontrei uma comunidade lolita com quase mil membros, porém para entrar nela precisa de convite. Isso atrapalhou meus planos de pesquisa, mas entendo bem a necessidade: tem muito homem creepy por aí, querendo assediar garotas da comunidade. Consegui observar as postagens. Tem de tudo: gente pedindo ajuda em visual, mostrando o que vestiu, querendo conversar. As comunidades que consegui acessar estavam paradas e não tinham uma quantidade significativa de membros. 


Comunidades na rede social Amino

4º dia - Para monetizar o aplicativo, os desenvolvedores oferecem a versão paga (Amino+), que libera recursos como figurinhas, decoração de avatares, customização de janelas de conversa, humores e acesso prioritário a novas funcionalidades. A anuidade custa R$ 85. Como estou só observando, não sei se vale. Por enquanto, não consegui interagir com ninguém. A navegação no Amino é estranha: em cada uma das comunidades você tem um perfil separado, com seguidores, reputação e blogs diferentes. Até aqui, me parece o ponto mais ruim.

5º dia - Não apenas a separação de perfis nas comunidades do perfil "oficial" no Amino é sofrível: os convites para chats ficam bem escondidos, e a organização das seções é totalmente misturada, fica uma coisa bem confusa. Recebo notificações de conversas no FT nas quais nem estou, e também de grupos totalmente inativos. Senti falta de um filtro mais "certeiro" de preferências, assim como o existente no Pinterest no momento em que você faz a conta - lá, eles apresentam hobbies e você diz do que gosta mais.



sábado, 6 de junho de 2020

Black People Problems: Love Nikki

No último post sobre a plataforma Bentewee, eu havia mencionado que meu jogo favorito atualmente é o Love Nikki Dress-Up Queen, um misto de RPG e Dress-Up lançado em 2017 e gerido pela Elex/Paper Games. Com a quarentena, passo ainda mais tempo nesse jogo e confesso que já gastei dinheiro real em recarga de diamantes ou compra de roupinhas que realmente gostei. Nesse momento, consigo entender bem a sensação de quem joga o tal do Lolzinho. 

Relembrando | A história está centrada em Nikki, uma jovem de 18 anos - hoje, ela tem 21 - que quer ser designer de moda e começa a viajar por um país chamado Miraland, na companhia de um gato falante chamado Momo. Eles atravessam sete nações diferentes: Apple, Pigeon, Wasteland, North, Lilith, Ruin e Cloud. Nessa tour, eles conhecem diversos amigos, como o primeiro-ministro Nidhogg e sua secretária Yvette, a atriz Sophia, a modelo Mela, o elfo Chloris, dentre outros personagens. Todos se enfrentam em... desafios de estilo. 

As roupas, acessórios e maquiagens podem ser adquiridas de diversas maneiras: nas lojas do jogo, por recomposição de itens e eventos promovidos pela Elex. Pronto, é isso. "Mas por que só isso, Bells?" Porque o foco do post de hoje não é esse. Ainda no clima do #VidasNegrasImportam, vamos ao ponto polêmico que citei lá atrás: as desventuras de quem quer fazer uma boneca negra!


1 - Baixa quantidade de maquiagens negras em relação às brancas: De acordo com o site Nikki Info, há cerca de 300 faces para colocar na personagem. Delas, apenas 29 (a idade de quem lhes escreve) poderiam ser consideradas negras. Ou seja, 10% do jogo inteiro! E a maioria precisa de diamantes para ser obtida ou pertence a eventos de recarga. Triste, não?

Maquiagens que tenho com pele negra. Só cinco.

Quanto à maquiagem corporal, a situação fica ainda mais delicada: ainda que as opções não-brancas apareçam em maior quantidade (5 de 10), é difícil combinar rosto e corpo, porque alguns só ficam sem diferença de cor quando estão num único traje (de evento...)


2 - Deu ruim nas poses: A galera costuma surtar com os eventos produzidos pela Elex porque muitos dos trajes trazem poses diferentes e incríveis (principalmente quando são sereias, fadas, demônios, etc). O "pobrema" é que até hoje só vi uns cinco ou dez trajes com poses para peles negras. O que acaba acontecendo quando alguém precisa usar o Nikki Info, ou simplesmente quer usar uma boneca negra? Bizarrices. Logo abaixo tem um ótimo exemplo. O que custa oferecer a quem joga opções de escolher com qual pele quer começar, se a Nikki que enfrenta os personagens é customizada e não a "oficial"?

Pose com o leque do primeiro set da associação

3 - Poucas opções de cabelos: só cinco não são lisos. Tudo bem que a pessoa negra pode fazer o que quiser com o cabelo dela, o que inclui alisar. Mas, cabelo crespo é ancestralidade, é história, é poder. Para um jogo de alcance global - e portanto com uma diversidade de jogadores imensa - isso sem dúvida é uma coisa que precisa melhorar.

Opções de cabelo não-liso + pernas com tom diferente do corpo

Os dois últimos itens são reflexões pessoais, o que quer dizer que não estou malhando a Elex. Mas, são coisas bem pertinentes pra mim.

4 - Ancestral ou exótico?: A Elex escolheu colocar em todos os cabelos afro a categoria "Tradicional". Isso acaba me fazendo pensar um pouco. No Carnaval, é inadmissível alguém sair com a cara pintada de preto e uma peruca black power, pois isto é fazer black face e se torna ofensivo para os meus, por realçar um estereótipo pitoresco. Por que eu tô falando de Carnaval? Porque no Love Nikki essa categoria é representada por trajes indígenas (tanto os nativos estadunidenses quanto os brasileiros), indianos e árabes. Eu mudaria a categoria, se fosse a desenvolvedora. Não sei, de verdade.


5 - O flop vem: Eis aqui uma colocação que pode gerar algum desconforto, e posso estar equivocada. O LN tem dois concursos de estilismo: um que dura dias úteis (terça a sexta) e o do final de semana. Eu jogo desde 2018, nunca deixei de participar de nenhum (mesmo não indo bem, às vezes) e nunca vi uma Nikki negra vencendo o concurso. Não venham dizer que o critério é "criatividade", porque é comum o pessoal pegar sets prontos e conseguir as primeiras colocações, que dão recompensas mais altas. Isso favorece as "baleias" (nome usado pra quem gasta horrores com o jogo e consegue fechar todos os eventos).

Por enquanto é só, crianças. Até a próxima!
 








quinta-feira, 4 de junho de 2020

#VidasNegrasImportam: lojas para comprar e apoiar



Na terça-feira (02), perfis de Instagram do mundo inteiro levantaram as hashtags "#blacklivesmatter" e "#blackouttuesday". Ao postarem apenas uma imagem em tom de preto objetivo era chamar a atenção para a luta anti-racista, sobretudo com a morte de George Floyd, homem negro morto por asfixia pelas mãos de um policial branco em Minneapolis (EUA), mesmo avisando que não conseguia respirar. George foi acusado de usar notas falsas para ir comprar cigarro num supermercado. Na história recente do Brasil, aconteceram crimes igualmente bárbaros, como a morte de João Pedro, um menino que foi alvejado em casa durante a pandemia.

Como mulher negra, acredito que mais do que aderir a uma campanha de rede social, é preciso dar voz e vez aos nossos. Nasci em um bairro periférico de Salvador, e se havia uma coisa que minha mãe temia, era a abordagem da polícia, principalmente com meu irmão mais novo. Ela sempre chorou quando via um jovem negro apanhando dos "omi". Quanto a mim, fui rechaçada por uma ex-sogra pela minha cor de pele (e isso porque não sou retinta - quem é, sabe que a coisa fica ainda mais feia), tive oportunidades de emprego negadas e sempre fui seguida por seguranças durante minhas compras no shopping.

Inspirada numa campanha de "lojas de gente negra" que vi no Instagram, pensei: por que não fazer uma coisa brazuca? Então, cá está minha pequena lista de gente negra que eu admiro e faz um trampo daora. Todas as fotos foram pegas nos respectivos perfis das lojas, então os créditos pertencem a cada uma das pessoas citadas aqui.

1 - Usagi Box, por Thai Ramos | Essa menina mora na Ilha de Vera Cruz, pertinho daqui de Salvador. Produz bijuterias e acessórios em geral feitos em porcelana fria. O trabalho dela é muito cuidadoso e delicado, totalmente personalizado. Faz frete por carta registrada até sete itens. Fortaleça o trabalho dela aqui.

Brincos feitos pela Thai

2 - Cutiepie Store, por Ediana Parnow | Do outro lado do país, em Porto Alegre (RS), a cosplayer e modelo plus size produz camisetas personalizadas, onesies (uma espécie de body mais fechado), e roupas do universo kawaii em geral. Fortaleça o trabalho dela aqui.

Conjunto de cropped e saia feito por Ediana

3 - Bahia Harajuku Mode, por Alane Dias | Também daqui da Bahia, a moça amante de gatos vive do seu trabalho como cosmaker. Também estiliza perucas e importa roupas e acessórios da Moda Lolita. Planeja se aventurar fazendo as próprias peças. Fortaleça o trabalho dela aqui.

Peruca estilizada inspirada em Melanie Martinez por Alane


4 - Studio 7 - Arte e Design, por Ana Carolina Santos | Nori, como Ana se identifica, trabalha na área da arquitetura e design. Oferece mídia kits variados para blogueiras, conteúdo de marketing digital e produtos importados por encomenda. Fortaleça o trabalho dela aqui.

Arte feita pela designer Nori. A propósito, cuidem-se!


Como eu ainda estou fazendo um levantamento das lojas alternativas para o meu TCC, a lista é pequenininha assim mesmo. Mas, com o passar do tempo, com certeza posso (e desejo) aumentá-la. Conhece o trabalho de alguma pessoa negra e quer enaltecê-lo? Conta pra mim!