Eu poderia começar esta postagem (a primeira, depois de quase três anos sem ter um blog) dizendo que minha filosofia de vida sempre foi meio Roberto Pêra/Senhor Incrível: eu trabalho sozinha. Passei a ser assim depois de uma adolescência meio esquisita, onde eu era muito mais nova do que meus colegas, e nenhum deles queria fazer os trabalhos da escola comigo, porque eu supostamente seria imatura demais. Foi também nessa época da vida que eu conheci a cultura gótica e os outros estilos que vieram depois: para além do prazer estético, era bom me sentir parte de um grupo pela primeira vez.
Atualmente, eu sou uma mulher que preferiu se exilar de uma comunidade oficial (se isso foi uma volta às raízes, não sei dizer) e decidiu seguir o próprio rumo. A cena lolita mudou muito desde quando comecei, quase dez anos atrás, e a primeira coisa que se avisa para as iniciantes é que não se deve nutrir grandes expectativas de angariar amizades apenas por causa do estilo que se adotou. Aviso que tem lá sua pertinência, porque em tese se trata apenas de uma roupa e ninguém vai se tornar magicamente amigo do Outro só porque tá com uma anágua embaixo das saias. No entanto, hoje essa bolha estourou, com um acontecimento que eu não esperava.
Passei a adotar a estética decora por influência de uma garota que poderia ter sido minha irmã: mesma idade, mesma altura, mesmos trejeitos e quase os mesmos gostos. Por muito, muito tempo, eu fiquei sem saber que ela era quase minha vizinha. Ou seja: passei anos perdendo a oportunidade de conversar mais a fundo, de fazermos mais coisas juntas. Nesta tarde, estava eu, atarefada pela rotina de estudante do terceiro ano de Comunicação Social, quando ela me manda um áudio choroso contando-me que o pai faleceu, meses depois de sofrer um acidente. Chorei junto com ela, segurando o meu celular comprado pouco tempo atrás.
Mas minhas lágrimas não foram apenas pela perda. Parte delas eram pela minha total e imensurável incapacidade de fazer algo por ela num momento como este. Compartilhamos enfeites, ajudamos uma a outra na "montação", saímos juntas e voltamos juntas dos eventos. Nos consideramos amigas. Todavia, como posso me dizer amiga de uma pessoa cujas dores, inquietações, aspirações para o futuro e todas as perfumarias inerentes ao conceito de amizade desconheço (mas deveria conhecer)? Que raio de ligação é esta, onde eu preciso me justificar por não saber dar uma palavra de consolo diante de uma situação deveras aterradora?
Encerro dizendo que o título deste desabafo (ou crônica, ou conto, ou anedota, como queira) não tem a intenção de levantar qualquer bandeira, nem mesmo as linhas que acabei de escrever carregam o intuito de responder essa pergunta. É tão somente um convite à reflexão, que não deve esperar um instante extremo para acontecer.
Amor,
A.
Caramba, você escreve muito bem!
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